miércoles, 24 de diciembre de 2008

A ILHA DO NATAL



O CANTO DO FIM DO MUNDO.

"La jorn del Judici

parrà el qui farà servici."

(...)

"Gran foc del cel davallarà;

mars, fonts i rius tot cremarà.

Daran los peixos horrible crits

perdent los naturals delits." (...)

Hoje, na véspera do Natal, essa cançao vai soar nas igreijas de Mallorca, antes da missa do galo.

O Canto da "Sibil.la" é o que resta duma representaçao litúrgica de Natal da época medieval (S.X).

É uma tradiçao que foi comum em bastantes zonas do Mediterrâneo, mas somente sobreviveu na nossa ilha.

É um tipo de canto que faz um menino, menina ou mulher; parecido ao gregoriano.

A criança vai vestida com uma túnica e leva uma espada nas maos, que mantem erguida durante a cançao.

Algumas vezes se acompanha com o orgao e é um espetáculo impressionante escutar a voz, a música e o silencio da gente.

A cançao fala do fim do mundo e da salvaçao dos crentes.

Mas como cremos que o mundo tem muita corda por diante, eu desejo a todo mundo:

FELIZ NATAL

E PRÓSPERO ANO 2009 !!!

Até o ano que vem!

Paula Martha.

miércoles, 3 de diciembre de 2008

A ILHA DA TRADIÇAO-3





As Casas de Neve (Nevaters)

Um antigo oficio, hoje desaparecido, ia ligado ao inverno, a época das neves.

Esse trabalho era o dos "nevaters", que vigiavam o tempo e quando sabiam que ia a fazer neve, subiam a montanha e recolhiam a neve em casas construidas para isso, "cases de neu".

Essas casas se faziam em partes onde nao pegava o sol e estava a bastante altura, que no caso de Mallorca é uns mil metros (a montanha mais alta, o "Puig Major" faz 1.450m.).

Fazia-se um buraco no chao, de forma quadrada ou de elipse e se forrava a parede com pedras e depois se botava um telhado, feito de madeira e mato, com aberturas onde os "nevaters" botavam a neve. Uma vez que faziam uma capa de certa largura, começavam a pisar e pisar até compactar a neve em gelo (o faziam descalços) e depois o tapavam com "càrritx", uma espécie de mato. Faziam muitas capas até chegar ao telhado e o deixavam lá.

Quando chegava o verao, eles subiam a montanha e baixavam o gelo, com ajuda de burros e asnos, em peças, tapadas de mato e geralmente pela noite até as vilas e cidades, tanto para a gente como para hospitais e cafés.

Com a eletricidade começou a fazerem-se gelo e mais modernamente, surgiram à geladeira e o congelador, etc.

Desse trabalho só restam às casas de neve na montanha e uma cançao popular que diz:

"Pitgem sa neu

tots estan dins les cases

peguen potades

Antoni, en Joan i n'Andreu."

miércoles, 19 de noviembre de 2008

A ILHA DA GENTE



"S'ARXIDUC"

Dizem que chegou a Mallorca fugindo da pérdida da sua amada, que morreu num desgraçado acidente (o seu vestido pegou fogo e ela morreu queimada diante dele). O feito é que o arquiduque Lluis-Salvador D'Habsburg-Lorena (1847-1915) foi uma pessoa especial.

Aristocrata, culto, grande viageiro (com o seu iate Nixe viajou pelo mundo e, sobretudo pelo Mediterrâneo), desembarcou na nossa ilha e prá ela dedicou a sua obra mais importante "Die Balearen in Wort un Bild geschildert" ( As Baleares descritas pela palavra e o desenho). Vários volumes dedicados a natureza, geografia, antropologia etc. das Ilhas Baleares.

Com excelentes gravados e desenhos, é uma fonte de conhecimento das nossas ilhas do final do século XIX e princípios do XX.

O seu amor foi a costa Norte da ilha de Mallorca. Se apaixonou da sua beleza, da natureza humanizada , mas virgem e pura.

Pouco a pouco foi comprando as terras e casas da zona. A primeira foi Miramar, onde o escritor e predicador medieval Ramon Llull tinha vivido e fundado uma escola de línguas orientais.

Dizem que uma vez ele, nos seu passeios, ouviu que cortavam uma oliveira, e para que nao cortassem mais árvores, comprou as terras por um valor muito superior. No dia seguinte, eram muitos camponeses que se puseram a cortar árvores.

Parente do emperador de Áustria e da famosa Sissí, que veio a visitar-lo em Mallorca e que ele descreveu quando ela falava com a camponesa Catalina Homar, comparando as duas mulheres, escrito que causou escândalo na corte austríaca.

"S' Arxiduc", como lhe chamavam em Mallorca, era um ecologista quando essa palavra ainda nao existia, impulsor do turismo, quando ainda nao existiam turistas, senao viageiros, viu em Mallorca as belezas onde os seus habitantes só viam trabalho.

Ele era romântico, excursionista, fez construir o primeiro refugio de montanha da Espanha e que para nossa vergonha está em bastante mal estado, quando deveria estar restaurado com plaquinha e tudo.

Quem como nós amamos a montanha, sentimos por ele uma imensa admiraçao, já somos conscientes que ele era rico, aristocrata, vamos que nao tinha nada que fazer, mas soube aproveitar o seu tempo e nele estava o domínio de catorze línguas, entre elas a catalana, o conhecimento das ilhas e da sua gente, o amor pela beleza. Quem vê uma posta de sol na costa Norte, nao esquece nunca, pois fica gravado no seu coraçao.

"S'Arxiduc" morreu em 1915, no principio da primeira guerra mundial, nao sei se era consciente que essa guerra terminou com seu mundo, com seu império, mas sua herança ainda vive no seus livros, nas suas antigas propiedades, que mantém a sua beleza e no crepúsculo no mar onde ainda se respira o romanticismo.

lunes, 10 de noviembre de 2008

A ILHA DA COZINHA-3


BERINJELAS RECHEIAS ("AUBERGÍNIES FARCIDES)
Esse é um prato que se pode comer tanto em inverno como em verao. Isso é quente ou frio.
Antes da Guerra civil espanhola, a gente da minha cidade o levava para a praia, para jantar perto do mar e bater papo, todo olhando o mar e as estrelas.
A minha mae me contava que quando tinha cinco anos, foi o seu último jantar pertinho do mar, já que veio a guerra e depois a fome do pós-guerra e nao o voltaram a fazer, ao menos com sua família.
É um prato fácil de fazer e consiste em: Berinjelas, carne moída (de vaca ou porco misturado), alho, um ovo, sal, pimenta, farinha de rosca e "sobrassada" (que se pode substituir por algum embutido gostozinho).
Botamos a cozer as berinjelas, partidas pela metade, até que estejam macias, depois tiramos com uma colher a sua poupa e colocamos as berinjelas dentro de uma forma, que possa ir ao forno. Misturamos a carne, o alho em pedacinhos, a poupa, o ovo batido e um pouco de sal e pimenta.
Colocamos o recheio dentro das berinjelas, o cobrimos com pedacinhos de "sobrassada" ou outro embutido e a farinha de rosca, um pouco de azeite e ao forno.
Quando o recheio esteja cozido, deixamos gratinar um pouco e já está pronto para servir.
Pode-se acompanhar dum molho de tomate e arroz branco.
É um prato muito mediterrâneo e se pode comer tanto diante da lareira como perto do mar, olhando as estrelas...

lunes, 27 de octubre de 2008

A ILHA LITERÁRIA-2



SÓLLER

El cel prepara secrets

murmuris de mandarina.

I les riberes del vent

esgarrien taronjades.

Jo tasto vergers. M'ajec

damunt valls encoixinades.

Les fulles alcen frescor

i aixequen ventalls de gràcia,

cortinatges de perfum,

cortesies tremolades.

L'oratge pinta perfils

de caramel dins l'oratge.

El cabell se m`ha esbullat

i tinc l'ombra capgirada.

El sucre de l'aire em fa

pessigolles a la cara,

amb confitures de flor

i xarops d'esgarrifança.

Unes cuixes de marquesa

em repassen l'espinada.

Quan el setí es torna gel,

sembla que es faci de flama.

El vicari compareix

amb un vas de llet glaçada.

La suor de les aixelles

li travessa la sotana.

Bartomeu Rosselló-Pòrcel (1913-1938)

A ditadura de franco, depois da Guerra Civil espanhola (1936-1939), trouxe um verdadeiro genocídio cultural , físico e ideológico, tanto do povo de fala catalana (Catalunha, Valência e as Ilhas Baleares), senao também de Galícia e como nao do povo Vasco.

Esse genocídio tinha uma idéia muito clara, fazer da Espanha um país com uma só ideologia, uma só língua, uma só religiao e como nao um só govêrno.

O conseguiu durante quarenta anos.

Os meus pais nunca falaram em castelhano entre eles, mas eram obrigados a fazê-lo na escola e em outro âmbitos. A língua castelhana era a única que eles sabiam ler e escrever, desconhecendo quase tudo da sua própria.

Eu tive melhor sorte, com a transiçao política, uma vez môrto o ditador, eu pude conhecer a cultura da minha gente, tanto a popular como a literária.

Porém essse processo foi lento, pelo caminho ficaram muita gente, muitos escritores que depois da guerra foram esquecidos e ignorados, entre eles temos a Bartomeu Rosselló-Pòrcel, ele morreu muito jovem, de tuberculose, mas deixou poemas tao lindos como o que eu coloquei, que leva o nome da minha cidade.

A democrácia foi abrindo caminhos, pouco a pouco foi aparecendo artigos nos jornais, rádio, televisao na nossa língua.

Todo esse esfôrço teve e tem gente em contra. Eles dizem besteiras, qualquer coisa para destruir a nossa cultura. Eles usam a língua, mas é que vai contra tudo aquilo que a nossa sociedade democrática foi ganhando com o tempo.

Agora o meu filho sabe e conhece as duas línguas, as pode ler e escrever perfeitamente. Na minha casa olhamos a televisao em catalao e castelhano, eu escrevo e leio também em português, tenho amigos galegos com quem posso falar e nao digo dos brasileiros, adoro a literatura castelhana assim como a portuguesa e a catalana e sinto nao saber a vasca, mas tudo ao tempo.

O respeito por todas as culturas e o amor a liberdade, esse é o nosso horizonte de futuro, nao quero outro.

miércoles, 15 de octubre de 2008

A ILHA DA SOLIDARIDADE





Viver numa ilha é como viver num mundo, mas em pequeno.
Tudo o que passa fora, também passa dentro e como vivemos num mundo tão globalizado, não se pode viver sem sentir todos os problemas e injustiças que afetam o nosso planeta.
A nossa ilha, onde a pobreza era atávica, viveu durante os últimos 60 anos, com a vinda do turismo, uma explosao de riqueza e bem-estar, que fez que outras pessoas, da Península primeiro e agora até de outros continentes, viessem buscando essa nova qualidade de vida.
A riqueza da nossa terra, que vem da sua beleza e do seu clima, nao podem tapar os núcleos de pobreza que existem.
Viúvas e velhinhos sem família, marginados da sociedade, desempregados, jovens sem casa, crianças com famílias desestruturadas etc.
A sociedade malhorquina tem feito um esforço para ajudar essas pessoas a sair dessa situação difícil, que a todos nos pode afetar.
Cáritas, Projecte Home, Cruz Vermelha, Serviços Sociais etc.
Existe também, como não, a pobreza, até miséria, que passa na África e que se agrava com doenças, que na Europa nao tem lugar pelas suas condições de vida.
Uma dessas doenças, a NOMA (uma bactéria que destroça a cara das pessoas), tem num grupo de malhorquines, uns grandes lutadores, tanto para evitar essa enfermidade, como para procurar, com a cirurgia plástica, restituir as feições da cara dessas crianças para que possam voltar a sorrir.
A "FUNDACIÓ CAMPANER" luta para que com uma boa alimentação, higiene e penicilina, esse problema tenha solução.
Muitas vezes o esforço econômico não é tão grande como o valor e a vontade de muitas pessoas.
Quem sabe um dia, a pobreza vai ser só um recordo do passado!

Participante do "Blog Action Day 2008"

martes, 7 de octubre de 2008

A ILHA ECOLÓGICA



"SALVEM SA DRAGONERA"

Faz uns trinta anos, um grupo de jovens, a maioria menores de idade, decidiu fazer um gesto, ao qual vamos agradecer toda a vida.
Eles resolveram invadir e ocupar a pequena ilha de "Sa Dragonera".
Essa ilha, que está no poente de Malhorca e pertence ao município de Andratx; estava baixa a ameaça duma empresa "Patrimonial Mediterránea S.A.", cuja idéia era urbanizar a zona com um cassino, hotel, heliporto e um bairro para trabalhadores.
No dia 7 de julho de 1977 (fazia pouco das primeiras eleiçoes democráticas na Espanha), esses jovens valentes, alugaram uma barca e com alguns víveres foram para a ilha e alí botaram um grande cartel que dizia: "Salvem Sa Dragonera".
Malhorca, naquela época, vinha sofrendo um processo de urbanizaçao brutal que até criou um neologismo "balearització", que significa construir duma maneira selvagem, sem planificaçao e sem respeito para o meio ambiente com a intençao de especular com a terra e os edifícios. Esse processo dura até agora.
Bem no que íamos, esses jovens foram atacados pelos partidos políticos e tratados de loucos, atrasados e que queriam impedir o progresso.
Mas eles recebiam o apoio de mais de trezentas pessoas (escritores, artistas, jornalistas etc.), que mantinha o contato entre "Sa Dragonera" e Malhorca.
Nós, (os estudantes), comprávamos pôsteres, propaganda etc. para ajudar aqueles jovens.
Foi uma mobilizaçao da sociedade, de gente de diferentes ideologias, mas amantes da natureza.
Esse feito durou até que houve um acordo em comprar a ilha por parte das autoridades.
Em 1987 (10 anos depois), o "Consell de Mallorca" (govêrno autônomo da Ilha) comprou "Sa Dragonera" e em 1995, ela foi declarada "Parque Natural".
Hoje em dia você pode visitar e passear por ela. Ali vivem aves e umas pequenas lagartixas, que aquí dizemos "dragons", em liberdade, pois as ilhas pequenas sao o seu último refúgio.
Os "dragons", a vegetaçao, a paisagem e o mar fazem dessa ilha um lugar maravilhoso.
A vingança veio depois, já que a costa de Andratx foi urbanizada duma forma tao selvagem que faz mal nos olhos, mais isso eu vou contar mais adiante.
O importante é que aqueles jovens, hoje gente trabalhadora, pais e maes de família, foram capazes de fazer do seu sonho, uma realidade.
Eles nao eram muito conscientes do que passaria, mas graças a eles o Dragao venceu a máquina escavadora e o sonho fez-se real como um conto de fadas.

viernes, 3 de octubre de 2008

A ILHA DA TRADIÇAO-2



"ESCLATA-SANGS"

Quando chega o outono aqui no Mediterrâneo, aparece uma espécie de febre que é muito contagiosa.

Essa febre tem un nome: COGUMELOS.

Numa ilha como Mallorca onde antanho os recursos eram escassos e a fome e a miséria abundantes, o nativo tinha que procurar comida onde fosse e os poucos frutos da terra eram muito apreciados.

Desde os humildes caracóis (prato muito requerido na minha cidade) até os "esclata-sangs" (cogumelos próprios de Mallorca) mais a caça e a pesca.

Esses frutos da terra eram tao importantes que até o rei Jaume 1º regulou a sua colheita nas montanhas e torrentes da ilha. Isso é que todos os seus súditos tinham direito de apanhar e colher nos montes e pescar nas costas assim como caçar.

Com o passo do tempo, houve muitos conflitos entre o povo e os diferentes propietários dos territórios com eternos enfrentamentos judiciais até que se chegou a um acordo entre os donos e as prefeituras em conceder determinadas zonas "Comunes" para que a gente pudesse ir a procurar lenha, caracóis, cogumelos e caça. Na beira do mar se deixou uma zona de passo para os pescadores.

Hoje em dia, as prefeituras cobram um imposto para essas atividades em conceito de cuidar e manter limpa a montanha e acomoda um pequeno espaço para que a gente possa passear e fazer um churrasco ou uma paelha e as crianças possam correr e brincar.

Existem muitas espécies de cogumelos comestíveis, ainda que haja de tóxicos e até venenosos. É uma coisa que se tem de conhecer. O mais apetitoso na nossa Ilha é o "esclata-sang" (lactarius sanguifluus). Surge entre os pinheiros e as matas. Quem sabe os lugares o mantêm em segredo, que algumas vezes passa de pai a filho.

No mercado tem um alto preço e sao muito gostosos torradinhos com azeite, sal e pimenta, no forno ou acompanhando carne de porco ou com um arroz com carne e verduras etc.

É a felicidade de colher sem ter plantado, de achar caminhando e cheirando o perfume da montanha, seu ar humido e limpo e quando chega a casa, torrar-los na lareira e sentir de novo o ar do campo, da liberdade e compartir com a família e os amigos a gesta de ter encontrado os tao valiosos "esclata-sangs".

(foto:Joan Maiol (esclata-sangs trobats a sa Pobla-Mallorca)

lunes, 22 de septiembre de 2008

A ILHA DOS CAMPEOES




Ontem chegou o nosso campeao dos jogos Paraolímpicos de Pekin (China).
Xavi Torres (1974) conseguiu uma medalha de prata e uma de bronze em nataçao.
Esse campeao por partida dobre, pois o é na piscina e na vida, nasceu com uma amputaçao congênita nas quatro extremidades, porém isso nao impediu que com o seu esforço e tenacidade conseguisse um palmares impressionante na sua carreira esportiva: Campeao paraolímpico em Barcelona 92 (1 oro, 2 prata e 2 bronze, Record do mundo), campeao paraolímpico Atlanta 96 (1 oro, 1 prata e 1 bronze, Record do mundo), campeao paraolímpico Atenas 2004 (1 prata e 1 bronze), campeao júnior Saint Etienne 89, campeao do mundo absoluto Malta 94, Chistchuch 98 (Nova Zelanda) e Argentina 2002, además de campeao de Europa.
Esse atleta tem o premio Ramon Llull a atividade esportiva (2001) e com Rafel Nadal (tenista) apadrinha o programa "Aprendemos Juntos" de integraçao de meninos e meninas com deficiências.
Com estudos de professor em educaçao física, presenteador de TV, ele é um exemplo para os nossos jovens e nao tao jovens, em como a vontade e o esforço é importante para superar as dificuldades da vida.
Felicidades XAVI TORRES!

miércoles, 17 de septiembre de 2008

A ILHA ANTIGA-2





Balma de Son Matge (Valldemossa)-Foto Joan Maiol e enterramento de Sa Cova des Pas (Menorca). Mao apanhando cabelos e fragmentos de cordas da mortalha.

A eterna pergunta sempre é: Quem foi o primeiro? Quem foi o Adao e Eva desse paraíso que sao as Illes Balears?

A resposta tem sido buscada desde antigo. Na Grécia clássica pensavam que os colonizadores das Ilhas eram troianos que fugiam da derrota da famosa Guerra de Tróia.

Os romanos pensavam que eram descendentes de Hércules.

Já no século XIX, J. Ramis no seu livro "Antigüedades célticas de Menorca" (1818), intentou responder dando a idéia que os nossos primeiros habitantes eram Celtas.

Posteriormente teve êxito a teoria de que eram gente dos tao famosos como desconhecidos "Povos do Mar".

Nos mediados do século XX considerou-se que foram gente do Neolítico, que vieram com embarcaçoes desde a Península Ibérica ou talvez de Córsega ou Sardenha, com os quais parece ter algo em comum.

Esses habitantes teriam vindo sobre o 3.000/2.000 a.C.

Nos anos 60/70, William Waldren, um artista que vivia em Deià (Mallorca), começou a investigar e excavar com métodos mais modernos como a dataçao por rádio carbono e parece que encontrou na cova de Muleta (Sóller), um depósito de ossos onde o homem tinha convivido com o Myotragus Balearicus (animal meio cabra, extinto desde antigo).

Essa convivência se explicaria por um intento de estabulaçao no abrigo rochoso de Son Matge (Valldemossa) e também na cova de Canet (Esporles), onde Jaume Coll pareceria ter encontrado restos duma fogueira que situaria essa gente numa antigüidade de 7.000 anos a.C.

Todas essas teorias que durante os anos 80/90 tomaram força, começaram a perder-la com o análise do rádio carbono calibrado. Isso é comparando o resultado com outros meios de dataçao, por exemplo, o conhecimento da idade das árvores pelas suas veias ou a estratificaçao dos materiais, etc.

Essas novas análises e também os novos professores como Guerrero Ayuso, J. Aramburu, Jaume Coll, Manel Calvo etc. da Universidade da "Illes Balears" fez que os nossos primeiros habitantes nao fossem tao antigos como parecia e que se situariam de novo no Calco lítico.

O descobrimento duma cova de enterramento em Menorca, intacta e que tem conservado incluso tecidos internos (cerebro, pulmao, estômago) vao permitir conhecer melhor quem era essa gente, de onde vinha e que tipo de alimentaçao, doenças, clima e vegetaçao os afetavam.

O que se encontrou nessa cova merece artigo à parte. Os seus escavadores acharam um autêntico tesouro, nao de ouro, mas de gente. A "Cova des Pas" está dentro de um barranco à meia ladeira, de dificil acesso. Escondia enterramentos feitos sobre paridelas de madeira. Os defuntos (homens, mulheres, crianças) estavam dentro de mortalhas feitas de couro e levavam os cabelos em tranças, alguns cortados e tingidos de vermelho (parece que com valor ritual).

Havia uma mulher com um bebê, que tinha morto do parto e levava um ramo de flores encima (ainda se conservavam fragmentos do ramo).

Eu tive a sorte de ver as fotos e o relato dos próprios arqueólogos que fizeram a escavaçao. Foi realmente emocionante! Creio que nunca vou esquecer aquele dia.

O estudo do ADN dos tecidos, o pólen, as madeiras, os esqueletos etc. vao demorar certo tempo. Estamos ávidos em conhecer os resultados e estaremos atentos as publicaçoes dos estudiosos.

martes, 9 de septiembre de 2008

A ILHA DOS DEMÔNIOS


Hoje vamos falar de chifre e nao vai ser de vaca. Vamos falar de rabo e nao vai ser de touro.
Vou falar do Diabo. Essa figura tao temível como desconhecida, tao horrenda como atrativa.
Que tem de especial o diabo, que aqui na nossa cultura, tao Cristiana, apostólica e romana, esteja presente em quase todas as festas?
Antropologicamente falando, (até que fica bem, nao é?), pode que esse personagem fosse o representante do que se diz "contracultura".
Ele era o elemento discordante, vamos aquele que punha em entredito o estabelecido.
Os nossos diabos, que parece que nao, mas sao muitos em toda a Ilha, tem um ar entre malvado e divertido, como aquele que faz travessuras, porém no fundo nao quer machucar ninguém.
Esse espírito burlao existiu desde muito antigo, reprimido e perseguido durante a ditadura, explodiu com a liberdade da democracia e criou escola, isso é: mais diabinhos, e com eles o fogo, o espetáculo da música e da chama, removendo os sentidos mais profundos das festas do Mediterrâneo.
Desde o Norte ao Sul da Ilha, acompanhando às procissoes e festas religiosas (Santa Catalina, Sao Antoinio, Sao Bartolomeu etc.) . Comparsas de Santa Catalina Thomas (a santa da Ilha), aonde vao rompendo centenários de recipientes de cerâmica como representando a tentaçao que tem que vencer a Santa. Depois, eles movendo as cadeiras fazem soar uns badalos que levam pendurados na cintura.
Persiguindo os meninos com um pau ou molestando a "dama" na antiquíssima dança dos "Cosssiers".
Personagens atávicos, os nossos diabos ("dimonis") dao medo nas crianças e festa à gente maior, enfim se isso é o inferno, quem sabe se nao é tao mau.

lunes, 1 de septiembre de 2008

A ILHA DO TEATRO





"Enmig de la mar

s'aixeca ma terra

fins tocar el cel

que es deixa en la Serra

banderes de blau."

Pere Capellà (1907-1954)

fragmento do poema inacabado "Jo sóc català"

Com esse poema de Pere Capellà, autor teatral, queria falar do teatro.

Todas as sociedades têm os seus meios de expressao, o seu jeito de canalizar as suas ilusoes e frustraçoes.

Alguns povos usam a música, a dança, outros os esportes ou até a religiao etc. Porém pode-se dizer que na pequena ilha, o teatro foi e é uma forma natural de recrear os seus próprios problemas ou soluçoes.

Nao se destaca por ter grandes companhias de nível internacional, ao contrário sempre foi uma atividade falta de recursos e de apoio oficial.

O teatro foi perseguido, fiscalizado pela igreja, estado etc., mas a gente sabia como fazer que aparente mais inocente do que era e assim transmitir a mensagem do autor.

Nasceu assim um teatro basicamente afeiçoado e ainda segue sendo com mais ou menos força.

Sao muitos os grupos em todo o arquipélago e eu pertenço junto com a minha família e um grupo de amigos ao "Agrupació de Teatre Nova Terra", o qual no ano que vem vai fazer 35 anos.

O seu atual diretor e presidente, pois se trata duma associaçao, é Joan Maiol Bisbal e o repertório do grupo vai desde obras de "teatro regional" (baseadas no mundo rural), clássicos e pequenas obras de mímica.

Com altos e baixos, pelo grupo tem passado muita gente da nossa cidade.

A sua fundadora e anterior diretora, Maria Vázquez, conseguiram, antes da sua morte prematura, levar o grupo por todas as ilhas e também na Península.

Esse desejo de fazer rir, chorar e sentir o aplauso do público é um sentimento muito especial e que faz esquecer os ensaios e as horas dedicadas ao decorado e a preparaçao da obra.

O Joan sente o teatro e atua desde a sua adolescência. Escreve e traduz, sendo a alma do grupo atual.

Como o nosso grupo, existe outros na mesma cidade, "Mademico Teatre", "Estel Nou, teatre" (grupo formado por pessoas com algumas discapacidades), teatro infantil etc.

Como vocês podem ver a afeiçao à comédia é grande na ilha e parafraseando a Pessoa: "(O ator) é um fingidor / finge tao completamente / que até finge que é dor / a dor que de verdade sente."

lunes, 25 de agosto de 2008

A ILHA DA COZINHA-2.


"TREMPÓ"
Como faz tanto calor, é boa uma receita de comida bem fresquinha e fácil de fazer.
Essa comida era da gente do campo que a levava ou a fazia alí mesmo, quando trabalhava na terra. É uma comida que aproveita os frutos do horto e tem algumas variantes.
O seu nome na ilha é "trempó".
Você precisa: Cebolas, tomates, pimentoes verdes, atum de lata, azeite de oliva, azeitonas recheias ou sem caroço e um pouco de sal.
Corte-se bem pequeno todos os ingridientes, uma vez bem limpos, se misturam dentro de um prato fundo com azeite e sal e já se pode servir.
Acompanha-se com pao e vinho branco ou rosado bem fresquinho ou qualquer refresco.
Existe uma variante que em vez de atum, usa bacalhau desfeito em pedacinhos e sem sal, e se diz "estopeta".
Essa comida é muito prática para levar prá praia, montanha ou qualquer lugar, pois se come fria e é fácil de transportar.
É um dos prazeres da vida: Comer o "trempó" na sombra dum pinheiro olhando o mar e sentindo a brisa que lhe pega no corpo, um arrepio que lhe diz que a vida pode ser maravilhosa.

martes, 19 de agosto de 2008

A ILHA DE ORO




Como dizemos aquí: "No poden tapar-nos el cul amb set flassades,d'estufat que el tenim".
Nao sei muito bem como traduzir essa expressao, mas sim dizer o orgulhosos e satisfeitos que estamos a gente da Ilha com as medalhas de oro e prata que tem conseguido os nossos esportistas na Olimpíada da China.
Rafel Nadal (oro em tenis), Joan Llaneres (oro e prata em ciclismo) e Toni Tauler (prata em ciclismo).
Para eles e todos os demais, uma grande felicitaçao, porque a sua glória vem do esforço seu e de muita outra gente (entreinadores, mestres, família etc.).
A pequena ilha algumas vezes é muito grande!

domingo, 17 de agosto de 2008

ILHA DA TRADIÇAO


Vocês devem estar perguntando onde está a magia dessa Ilha onde vivo. Nao é nenhum parque de cartao pedra, nem tampouco Disneylandia. É somente uma ilha, com seus costumes, sua tradiçao e sua magia.
Uma magia que vem do seu clima, do seu entorno e, sobretudo da natureza: a terra, as montanhas, as árvores, o mar e a agricultura.
Quando os homens e mulheres nao conheciam a ciência da meteorologia, suas respostas estavam nas estrelas, na lua, no sol e os seus equinócios e solstícios e é do Solstício de verao que eu quero falar.
Agora nós estamos em verao, uma estaçao que começou precisamente no solstício, isso é no dia 24 de junho.
Essa data no calendário religioso é o dia de Sao Joao Baptista, que predicava a presença de Jesus.
Como alguns dizem, Jesus veio a substituir um deus solar, de aí o seu nascimento no solstício de inverno (25 de dezembro) e a sua ressurreiçao, coincidindo com a primeira lua nova da primavera.
Pois aquí na Ilha existe uma crença que na noite da véspera de Sao Joao (uma noite mágica por excelencia), os meninos que tinham problemas de hérnia, eram levados pelos pais a uma árvore de vime, onde se cortava um galho pela metade es as crianças eram passadas nuas entre as dois partes da rama. Isso se faz na alba do dia 24 em um horto concreto da ilha e é uma crença antiga da qual se desconhece a origem.
Nao sei dizer se é efetiva ou nao, o feito é que ainda hoje se faz e há uma fila de gente esperando e também a televisao e os jornais falam do tema.
Como vocês podem ver, a magia está no coraçao das pessoas e quem sabe nas árvores, pois esse pé de vime é cuidado como um tesouro.

martes, 12 de agosto de 2008

A ILHA LITERÁRIA



"Mon cor estima un arbre: més vell que l'olivera,


més poderós que el roure, més verd que el taronger,


conserva de ses fulles l'eterna primavera


i lluita amb les ventades que atupen la ribera,


que cruixen lo terrer."

M. Costa i Llobera



A língua da Ilha onde vivo, é uma língua minoritária ainda que a falam uns oito milhões de pessoas.
É uma língua filha do latim, irmã pois do português, castelhano, francês, italiano e galego. Que chegou às ilhas com a conquista aos mouros de Jaume Iº da corôa de Aragó e Catalunha.
Essa língua se desenvolveu bem até 1714 em que um decreto do Rei Felipe V, obrigou a que as zonas onde se falava fosse proibida e que os habitantes tinham que castelhanizar até os seus nomes.
Baixo a força e o domínio da língua castelhana, a catalana sofreu uma decadência oficial e literária apesar de ter escritores medievais como Ramon Llull (1232/3-1316) de fama universal.
Nao é até a "Renascença" ou o renascimento do S.XIX, movimento literário, fruto da estética romântica de recuperação do passado e das raízes do povo, em que a língua e sua literatura nao toma uma nova vida.
Escritores como Marià Aguiló, Antoni Mª Alcover ( recopilou todos os contos orais populares, fez o 1º Congresso Internacional da Língua Catalana, criou a primeira revista de filologia e o Diccionario Català, Valencià i Balear etc.), Costa i Llobera, Mª Antònia Salvà etc. fizeram que a língua Catalana tomasse prestígio literário e social, porém seguia sem ser oficial nem nos organismos públicos nem na escola.
Mais tarde com a guerra Civil espanhola e a ditadura de 40 anos, de novo a perseguição e a proibição se abateu sobre a nossa língua.
O que vem depois já é outra história.

viernes, 8 de agosto de 2008

A Ilha Antiga





No ano 1909, Dorothy Bates (paleontóloga inglesa), fez um dos descobrimentos mais importantes para a ciencia da ilha onde vivo.

Ela descobriu o fóssil dum pequeno animal dum género e espécie desconhecido, que bautizou como "MYOTRAGUS BALEARICUS", hoje em dia se conhecem seis espécies do género Myotragus, uma delas recebe o nome de Myotragus Bate, em homenagem a ela.

Esse animal, parecido a uma cabra, como diz o seu nome "rata-cabra", peludo e com os olhos diante da cara, é o mais representativo da fauna endémica das ilhas. Parece que chegou às ilhas faz uns 5´5 milhoes de anos.

Sua evoluçao, sem depredadores, foi especial já que tinha umas dentes com incisivos inferiores de crescimento continuo, pequenho tamanho (50-60 cm. de altura) e uns 12Kg. de peso, caminhava e nao sabia correr, incapaz de pular, esse pequenho animal parece que conheceu a chegada dos primeiros homens à ilha; existe a hipótese que foi o homem a causa da su extinçao, pode que seja também a vinda de outros animais o que propiciou a sua desapariçao, só os estudos dos fósseis, que se acham sobretudo nas covas, poderá explicar o que passou com esse animalzinho.

É muito importante o conhecimento do sistema ecológico duma ilha pequena, pode que seja o nosso futuro, ou que sejamos um fóssil mais como o Myotragus.

miércoles, 6 de agosto de 2008

A ILHA DA COZINHA

Como saben em todas as ilhas o mais importante é a comida e assim passa na pequena ilha onde vivo.

A comida, para mim, mais boa e também a mais fácil de fazer é o "PA AMB OLI", que nao é outra coisa que pao com azeite, óleo de oliva, por supôsto, pois por algo é uma ilha do Mediterráneo.
Aí vai a receita: Você precisa de pao, que seja bom, tomate, que tenha suco, óleo de olivo e um pouco de sal.
Primeiro corte o pao em fatias ou ao largo, o molha com tomate esfregando bem, depois se poe o azeite e um pouco de sal.
Esse prato pode levar a companhia de queijo, "jamón serrano", presunto e outros embutidos, azeitonas, alcaparras e também algum envinagrado.
No inverno se pode tostar o pao nas brasas do fogo da lenha, e também, esfregar com alho, para quem goste.
Essa é a comida mais comúm da gente da ilha, e acompanhada com um bom vinho é um momento excelente para compartir com a família ou os amigos. Bom apetite!

lunes, 4 de agosto de 2008

Uma pequena ilha no Mediterraneo

Visc a una petita illa a la Mediterrànea. Té moltes coses de màgica, des de la seva cultura, la seva història , la seva bellesa i la seva llengua; la qual ara us estic parlant. Però també ho puc fer en la llengua castellana i com no en la portuguesa. Així que aquest blog vol ser un petit racó on poder parlar de literatura, història, cuina o poesia. Parlar o tal volta callar, o pensar en veu alta.
Aquestes petites illes són l'arxipèlag que voldria compartir amb qui vulgui perdre una estona amb mi.

Ontem, pela noite, estava olhando as estrelas e pensando no conceito da palavra ilha e me veio ao pensamento que o nosso mundo era também uma ilha no meio do espaço, que era a sua vez o inmenso mar. E pensei que estávamos bem sós aí no meio de nada e longe de tudo e que a humanidade era um grande náufrago sem nenhum barco a avistar e nessa sensaçao de grande solidao e vazio, sentí a cabecinha do meu gato esfregando as pernas. ele me trousse de novo a realidade. Eu tinha de fazer o jantar.

viernes, 1 de agosto de 2008

Primero Post



Talayot de Mallorca