jueves, 8 de agosto de 2013

A Ilha dos fantasmas.


 A ILHA DOS FANTASMAS

   A Ilha de Mallorca não é propícia para os fantasmas. O seu clima Mediterrâneo, o sol, o azul do céu e do mar, fazem que a nossa ilha seja por demais transparente e diáfana para aqueles que crêem nos fantasmas, mas mesmo assim existem fatos curiosos que tenho a vontade de contar para quem queira ouvir.
   O fantasma próprio da ilha, vamos aquele com marca de fábrica é a “bubota”, assim como soa.
   Esse fantasma tinha variedades, havia os do cemitério, das ruas, do campo e as do contrabando.
   Esse fantasma (”bubota”) é o típico de lençol branco e que faz : Buuuuuuh!
   Nos tempos passados, a falta de luz elétrica nas casas e nas ruas permitia à imaginação e medo da gente diante de qualquer coisa desconhecida. Eram tempos de vacas fracas (mais ou menos como agora) onde um dos meios de subsistência da gente era o contrabando de tabaco. Esse se fazia de noite e como estavam perseguidos pela lei, muitos contrabandistas punha-se uma peça de roupa grande que escondia a identidade e o gênero que transportava e assim tínhamos o fantasma que a gente ingênua podia ver pela noite.
   Outras dessas “bubotas” eram pessoas que tinham relações sentimentais não aceitadas pela sociedade, ou algum que outro que gostava de fazer brincadeira assustando aos vizinhos.
   Coisa diferente são as almas (“animes”), onde entram a presença dos defuntos e de outros seres vindos do além.
   Existem muitos lugares geográficos que registram feitos relacionados com isso: “Coll de sés animes”, “Sa cova de ses animes”, “Lloc de ses animes”, “Hort de ses animes”, “Carrer de ses animes” i “Talaia de ses animes”. Essa última é a que eu vou contar a estória:
   Pela estrada que circula a Serra de Tramuntana e que vai de Banyalbufar até Estellencs se acha  uma belíssima torre sobre um penhasco e que para entrar nela se tem que passar por um pequeno e vertiginoso ponte, essa torre data do século XVII e servia de vigilância pela vinda de possíveis piratas que nessa época infestavam estes mares.
   Essa torre hoje em dia se chama “Torre de ses ànimes”, cujo nome verdadeiro é “Torre dês Verger”. O nome de “Torre ou talaia de ses ànimes”, que significa Torre das almas é uma mudança do topônimo de lugar. A torre que de verdade tem esse nome é a da “posessió” (uma espécie de fazenda) chamada “Rafal de Planície” e vem duma estória em realidade surpreendente e terrífica.
   Era o mês de outubro de 1763, começou a sentirem-se vozes e ruídos nas casas. Os empregados avisaram ao proprietário, o marquês Nicolas de Pueyo y Pueyo. Esse veio para verificar o que passava e relatou numa carta o que presenciou na torre.
Preparou-se um quarto na torre para o marquês e outro para um cabo de guardiã, D. Guillermo Rosselló.
   A primeira noite depois dum certo tempo, começou ruídos e golpes, passo e confuso alvoroço. Depois disso, ouviu-se arrastar cadeias e com uma força enorme empurrava a porta, que estava fechada, até abri-la. O marques saiu do quarto no meio da escuridão mas ainda escutava golpes e ruídos que baixavam as escadas de caracol da torre, voltou de novo ao quarto e contando ele mesmo assim: “Comenzó a correrse el cerrojo de la escalera com tanta frecuencia y priesa que no es decible. Creció com eso mi cuidado y mucho más al pronunciar uma voz varonil:¡Ay, Jesús! ¡Ay, Jesús! (…) pero lo seco del gemido con probabilidad me hizo juzgar que allí mismo se articulaba el eco más lamentable que espero oír, sentía el triste ronquido del pecho, y al decir de las palabras el melancólico suspiro y horroroso llanto con que los acompañaba.”
   Quanto ao outro ocupante da torre, o cabo, era testemunho dos mesmos alvoroços com o agravante de numerosos efeitos de “poltergeist”, diante dele se moviam diferentes objetos num baile macabro.
   “A todo lo referido- añade Nicolas de Pueyo y Pueyo- se añade que el hombre que cuida del Rafal, habiéndose quedado aquella noche fuera y restituyéndose una hora antes de amanecer, oyó gritar de nuestros cuartos:”¿¡¡Qué hacéis, no traéis luz?!!” Y que Pedro Ripio vio desde el mar bajar una gran luz que de la torre se dirigía a Banyalbufar, siendo cierto que nadie habló ni se movió en toda la noche.”
   Esses fatos estão registrados numa carta de punho e letra do Senhor Marquês, um homem de cultura e prestígio, que não se deixaria enganar por ilusões ou brincadeiras.
Outros fatos passaram em outra “possessió”. Nessas casas os trabalhadores se reuniam nas noites de inverno diante duma enorme lareira para jantar, rezar e contar contos, esse de medo durante a noite dos dias de Todos os Santos e defuntos (1 e 2 de novembro).
Estavam as pessoas mais velhas, mulheres, jovens e crianças perto do fogo, quando ouviram ruídos encima das suas cabeças. Pouco a pouco aumentaram os ruídos, os campesinos e as crianças estavam assustados, mais tarde se ouve soar os badalos que levam os animais no pescoço e que estavam naquela sala. Soavam com certo ritmo como se alguém os tocasse.
   Ninguém se queria mover, o medo paralisava o pessoal, até que o mais velho deles apanhou uma bengala, e começou a subir e qual no foi a sua surpresa: O fantasma era um gato que estava fechado na sala e que brincava com os badalos das ovelhas, que estavam pendurados na parede. Nesse caso o fantasma tinha nome, a do gatinho da fazenda.
Fonte:Tradição popular e “Mallorca Mágica” de Carlos Garrido.